5 milhas de Valinhos - VITÓRIA

A corrida que não pensei em ganhar, GANHEI!
A corrida que me deixou confuso me deixou mais forte! 

É incrível esse mundo que eu vivo. 

Embora eu também estivesse meramente focado na Maratona de São Paulo, este evento não deixou de me chamar atenção. Mais uma vez, me vejo num circuito, que não vejo muitos concorrentes, só o Valdenilson era mais forte que eu e mais experiente. Acreditei que ficaria em segundo colocado. Quem me deu a inscrição e sua equipe inteira veio com uma certa "pressão" porque era certo que ganharia essa etapa. Deixo claro que não fui obrigado nem persuadido a nada; porém naqueles dias não tive apoio psicológico suficiente pra me dizerem que o importante era a participação. 


 

Orações foram envolvidas, café da manhã tomado pouco, o nervosismo até em escrever aqui é evidente. A pulsação aumentou tanto que parecia não ter adiantado em nada todos aqueles testes de corridas com o polar. Eu o usei e fiz as contas até explodir! Agora.... naquela hora.... cadê....

Respiração, calma, nada dava certo. 


O jeito era partir pra cima logo! 
E BOOOOOM! 
EXPLODE A CORRIDA!








Eu olho pra cima, pra frente e umas olhadas para trás e vejo que não tem ninguém.
Pensava eu: levarei a melhor hoje? Ah não, não era o primeiro quilômetro ainda!


Tinha que manter a calma. Mas ... COMO? CADÊ A CALMA???




Esse cara foi o primeiro em toda minha vida que me deixou tão irritado, bravo, nervoso de raiva! Porquê? Ficou na minha cola! Que vontade de bater nele!

Melhor se só corresse. Que não cuspisse tanto e nem que o suor da sua cara viesse que nem tiro de fuzil! A respiração do cara era horrível, estava se matando!


Outra coisa que aprendi na corrida: Será que eu já não fiz isso antes? Tentar forçar no limite até ver aonde chega? O objetivo dele eu sei qual era e cansei de fazer isso; consegui enxergar de rabo de olho, no rosto dele, demonstrava ser um cara que queria ganhar de mim de qualquer jeito. Mas valeria a pena? Eu estava no meu ritmo como tinha aprendido! Cada um no seu. Já aconteceu antes; se eu forçar minha energia ia embora, fico fraco e perco posições. E ele? Não sei. 

Era inverno, o frio incomodava. Enchia o saco. Ali naquela região, não tinham muitas árvores, pega toda a friagem de Vinhedo e Itatiba em cheio! 

E o carinha ficou na minha cola o tempão. E eu tava me irritando! Porquê? NÃO SEI!







Minha preocupação, até o momento, era o Valdenilson pois era mais antigo que eu na corrida e até agora não o tinha visto. Ainda tinha essa. Era a primeira vez que ele tinha ficado tanto tempo pra trás. 

Outra coisa que aprendi na corrida: conhecemos os ritmos dos outros. Em pouco tempo eu ganharia de alguém com pouco tempo de orientação e treinamento de força em academia? Se fosse assim haveria uma revolução nas corridas. Tinha algo errado mas era aquela coisa: cada um no seu ritmo. Foi o que eu fiz. 








Antes mesmo de dar meia volta; tentei falar, mesmo ofegante, para ele abaixar o ritmo porque a respiração dele estava esquisita. Babava demais, soava demais. Mas não me ouviu. Daí continuamos. Nessa hora vi o Valdenison se aproximando e estava certo do meu ritmo. 

Creio que a preocupação do professor Marcos era essa: eu estabelecer um ritmo e que eu não precise correr um risco tão grande a menos que não fosse preciso; pelo histórico de vezes que eu venho fazendo isso. Manter esse auto-controle foi uma das coisas mais difíceis de fazer em toda minha vida. 

É por isso que corridas de 5, 6 7 e 8 são piores que de 21km! Pra mim. 






Quando o Valdenilson nos passou, ainda estávamos empatados, e ele seguiu adiante. Antes ele passava imediatamente. Agora demorava para passar. Não me recordo de qual placa estava posicionada em algum lugar para fazer as contas e saber se eu estava forte ou não. Mas o pior ainda viria. E eu mais uma vez não esperava.



Depois de passar em frente a Via Margutta, se fosse só o vento gelado que cortou em quatro meus dois lábios fazendo sangrar que nem vampiro após sugar sangue de mulher tava bom.

Passou o carinha correndo loucamente; que acreditei que logo ia quebrar. Depois passou um cara, e depois outro cara! Tá, mas e aí? De onde esses dois vieram? Quem eram esses caras? COMO ASSIM? Ué, não estava tudo sob controle??? Mano que inferno! Aonde foi que eu errei????

Passou um turbilhão na cabeça que você não faz idéia!!!! Eu falei "meu deus, perdi! Se passar mais um já era".

Nessa altura, O caminho onde estava também era uma "meia volta". Num trajeto, você pode usar a mesma rua duas vezes. É só dar meia volta, organizadores otimizam estes espaços para ganhar metragens. Retornando no cruzamento da avenida principal que se situa a Via Margutta, peguei o vento gelado de novo, e fazendo algumas curvas para a esquerda, enxerguei o horizonte: devia ser Vinhedo, Itatiba, aqueles lados.

O vento ... pareciam facas uma atrás da outra na cabeça. Se não fosse o pano preto seria pior; não estaria superaquecido de propósito pra combater aquele frio todo.

Naquela hora, sentia vergonha, decepção, indignação, um sentimento de arrasado por não ter conseguido o que pensariam que eu fosse: campeão. Porém pergunto se hoje mudaria em algo caso eu ganhasse naquele dia.

Estou sendo tão sincero quanto afirmo que meu coração bate. Não minto. Foi o que vivi apenas.


Após algumas esquinas totalmente isolado, imaginando o que seria quando acabasse a corrida, apareço na última esquina antes da finalização. Parecia um pesadelo que não era pra ser vivido. Os staff's já deram sinais com as mãos de mais um se aproximando. Quando apareço escuto um deles, idade entre 35 e 40 anos; com suas palavras de incentivo do seu jeito  E até hoje o lembro gesticulando e falando algumas palavras: "vai lá, dá o sangue que o pódio é seu, falta pouco", era algo assim.

Lembra que na corrida série Delta comentei que daria um pulo enorme caso eu cruzasse a faixa? 






Estava acabado. 
Consegui meu primeiro pódio fora de casa. 
O berro de raiva gravou na cara de todos.
O Rogério e o Gutto perguntaram se corri mordendo os lábios. Fui no banheiro da Via Margutta lavar o rosto. Foi um erro: a cara toda gelada e a água morna - que pareceu quente - em contato com as quatro feridas com o sangue seco, deu uma dor enorme! Insuportável! 

Sofri lá dentro. 

Disfarcei. Saí, alimentei e fui conversando com o pessoal. 



Uma coisa que percebi na premiação, não conhecia ninguém! Só o Valdenilsom mesmo, os outros 3 nunca vi na minha vida! O Alex, a meu lado direito.... o locutor só falou o primeiro nome dele! Que estranho?? Quem eram esses caras??? Tá loco! Orra mano que raiva que deu! 

Por dentro eu estava furioso! Não sei se o motivo justifica mas desejava do fundo do coração que o resultado fosse outro. 


Só sei que quando levantei o troféu os aplausos foram de outro jeito comparado aos demais. Não me recordo, mas percebi que tinha algo de diferenciado.

Também percebi claramente que todos tinham vergonha de erguer seus troféus.  EU NÃO TINHA! EU NÃO TENHO! Subiu até onde dava pra subir! Só não subiu mais porque meu braço é curto!!!


Numa coisa não podiam negar. Por algum motivo BRILHEI nessa corrida. Não posso mentir porque estava na "boca do povo". Naquela hora todo o sentimento que não era pra existir sumiu. É o mesmo sentimento que tem um atleta que reage quando o que ele planeja não dá certo, porém continua e quando acaba o povo corresponde. Vanderlei, Ronaldo, Robson Caetano; esses caras e outros por aí saberiam do que estou falando aqui. 


Curti a festa; o povo de lá parabenizou. Estava eu cansado. E muito feliz.
Demais.


Acreditando que viriam outros pódios, levei na academia e deu espanto. Levei para os apoiadores e adoraram. 

No orkut e no face antigo deu o que falar. Não sei dizer o quanto falaram disso.

Vai ver, algumas posições na chegada valem mais do que a primeira posição. Estava vivendo isso e só depois de um tempão a ficha caiu. Não tenho como provar isso, mas brilhei muito nesse dia. 

Graças a meu Deus por isso.

Quero lembrar que tudo isso, até agora, nestes depoimentos e depois, uma das maiores batalhas é comigo mesmo. E é muito mais sério do que se imagina. 



Algumas fotos que eu tinha para adicionar foram perdidas.
Ainda tinha que me livrar das tarefas da faculdade; tinha que manter as notas em alta pro ProUni estar garantido.

Isso é tudo que me recordo.


Agradeço a atenção!
Vida longa a todos!

Adicione meu blog em seus favoritos! Acesse corredor 944 - o atleta
Siga-me nas redes sociais!
Clique nos link's em azul:



Nenhum comentário:

Postar um comentário